Desde muito pequeno eu ouvia a palavra inflamação. Era assim. “Sérgio, sua garganta está inflamada!” dizia a minha mãe todas as vezes que eu me queixava de dor de garganta. Naquela época tomava-se xarope para aliviar a dor ou chás variados, que eram mágicos! Funcionavam mesmo! Se acontecia uma machucado, um ralado no joelho, o inchaço, a vermelhidão e a dor indicavam que havia uma inflamação.
Ao contrário do que muitas vezes pensamos, essa inflamação, tão concreta, palpável e dolorosa não se restringe ao local afetado. Aliás, o processo da inflamação é de dentro para fora. Vou explicar. Quando há uma bactéria na garganta, ou sofremos uma pequeno corte na mão, células presentes no local informam outras células próximas e numa cadeia de informantes essa notícia chega ao nosso sangue. Então células sanguíneas começam a produzir substâncias e a convocar mais células de defessa para o grande imbróglio que está acontecendo. No local do machucado ou da infecção acaba virando um tumulto. Uma mistura de célula, substâncias químicas, bactérias vivas, bactérias mortas, ou seja, uma grande confusão. Neste processo, as células de defesa de nosso corpo liberam substâncias que sinalizam um processo de inflamação e essas substâncias acabam percorrendo todo o nosso corpo através do sangue. Em cada local do corpo, a reação inflamatória irá gerar uma consequência diferente.
Se a reação de inflamação for muito demorada, ela vai ser capaz de penetrar no nosso cérebro. Em geral, o cérebro é protegido e não sofre com a inflamação. Quando a inflamação penetra no nosso cérebro, lá dentro, entre as células neuronais (neurônio ou célula nervosa) começa a acontecer uma reação inflamatória também. E quando o cérebro inflama não é legal. Então significa que uma reação inflamatória iniciada em local distante pode afetar o cérebro? A resposta é sim. A inflamação viaja pelo nosso sangue e penetra no cérebro. Lá começa a afetá-lo negativamente.
O processo inflamatório cerebral está intimamente relacionado ao início de quadros depressivos ou agravamento desses e a um possível risco de dementia tipo Alzheimer. E provavelmente interfira negativamente em outros quadros neuropsiquiátricos.
Assim, controlar e sanar processos inflamatórios locais ou em todo o organismo é muito importante para a nossa saúde cerebral. Para saber mais consulte os artigos científicos abaixo. Se tiver dúvidas ou quiser aprofundar a discussão, me escreva!
A double-hit of stress and low-grade inflammation on functional brain network mediates posttraumatic stress symptoms. Jungyoon Kim, Sujung Yoon, Suji Lee, Haejin Hong, Eunji Ha, Yoonji Joo, Eun Hee Lee & In Kyoon Lyoo. Nat Commun 11, 1898 (2020). https://doi.org/10.1038/s41467-020-15655-5
Association of Chronic Low-grade Inflammation With Risk of Alzheimer Disease in ApoE4 Carriers. Qiushan Tao 1, Ting Fang Alvin Ang 2 3, Charles DeCarli 4, Sanford H Auerbach 5, Sheral Devine 6 7, Thor D Stein 8 9 10, Xiaoling Zhang 11, Joseph Massaro 6 12, Rhoda Au 2 3 5 6 10, Wei Qiao Qiu. JAMA Netw Open 2018 Oct 5;1(6):e183597 doi:10.1001/jamanetworkopen.2018.3597
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